E ʻike iā ʻoe iho
Homofobia Internalizada
Quais são os prejuízos da negação em relação a própria orientação sexual?
Kauê Gibran
6/5/20243 min read
Se o pai da homofobia é o machismo, a mãe da homofobia é a misoginia. A homofobia surge desses dois aspectos preconceituosos. O machismo por sua vez, pressupõe que o "masculino" tenha um jeito "certo" de ser e existir, enquanto a misoginia pressupõe que o "feminino" tenha um jeito "certo" de ser e existir. O que se perde no meio do caminho é a compreensão de que masculino e feminino existem em todos indivíduos, independente do sexo e do gênero. Aqui eu proponho a ideia de que "masculino" e "feminino" são na verdade desempenhos biopsicossocioespirituais.
Ao considerar que exista um jeito "certo" do masculino existir e ser, também será considerado que exista um jeito "errado", e logo por aqui já podemos entender que isso é apenas uma questão de perspectiva, a depender da cultura ou dos valores sociais do que é masculino ou feminino. Quando consideramos que uma pessoa do sexo masculino deve cumprir determinados comportamentos sexuais, afetivos e sociais, estamos sendo reducionistas, unilaterais e limitados. Acredito que muito da expectativa do que é ser masculino ou feminino surja a partir das nossas referências mais próximas dos nossos cuidadores, assim como esses cuidadores também tiveram referências de seus cuidadores e assim por diante. Além, claro, das referências mencionadas anteriormente relacionadas a cultura e padrões sociais.
Agora, onde encaixamos a homofobia nessa linha de raciocínio? Ela se encaixa perfeitamente quando tomamos o martelo de juízes em nossas mãos para determinar o que é certo e errado, o que é aceitável ou inaceitável, permitido ou proibido, tolerável ou intolerável. Obviamente devemos levar em consideração que determinados comportamentos sexuais ou afetivos não são aceitáveis, como por exemplo a pedofilia, o abuso, o estupro, o assédio, o incesto, a exploração, atos obscenos em público, etc. Com excessão desses comportamentos, sendo a maioria considerados crimes, não nos cabe considerar certo ou errado qualquer outro tipo de comportamento sexual ou afetivo que tenha como base o amor.
O que acontece então quando consideramos "errado" o nosso próprio comportamento sexual/afetivo? Essa consideração resulta em uma negação da própria orientação sexual - Aqui o sujeito não reconhece e nem valida seus impulsos sexuais ou desejos em relação a outra pessoa - o que pode levar a um certo embotamento afetivo, que significa esconder, reprimir ou anestesiar aquilo que sente. A paleta das emoções se torna mais cinza. Sentir que nunca é suficientemente bom se torna algo comum, o que pode acarretar em um perfeccionismo acentuado. O indivíduo nunca é suficientemente bom nem para si próprio. Se o princípio é: "existe algo de errado com a minha sexualidade", isso se traduz em: "a forma como eu existo está errada e precisa de correção." É possível "corrigir" nossa existência? Caso você esteja empenhado em tentar, fique a vontade, como psicólogo digo que seu esforço será em vão, pois não há nada de errado com a natureza da diversidade sexual que todo ser humano possui.
A homofobia internalizada também é capaz de afetar outros aspectos da vida do sujeito, como a autoestima baixa, a necessidade de compensação através do corpo excessivamente musculoso e estético, a obsessão em ser muito bem sucedido, a crença de que não existem relacionamentos saudáveis e maduros dentro do espectro da orientação sexual, etc.
Este é um tema amplo, o qual afeta e interconecta outros temas, mas podemos concluir que a homofobia parte do pressuposto de que exista algo "certo" ou "errado" em relação a nossa orientação sexual ou ao nosso comportamento masculino ou feminino, quando na verdade a nossa orientação sexual é plural, curiosa, exploradora e livre. A homofobia também sugere uma visão arrogante e condenatória a qual demonstra imaturidade psíquica. Entender que somos condicionados a sermos sujeitos comparativos e avaliativos é o primeiro passo para a descontração da homofobia, principalmente dentro de nós mesmos.
Referências:
ANTUNES, P. P. S. Homofobia internalizada: o preconceito do homossexual contra si mesmo. São Paulo: Tese de doutorado em Psicologia Social. Programa de estudos Pós-graduados em Psicologia Social; Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2016
PERLS, F. S. Gestalt - Terapia Explicada. São Paulo: Summus Editorial, 1977
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Psicólogo formado pela Universidade de Guarulhos (UNG) em São Paulo, Pós Graduando em Neurociências, Psicologia Positiva e Mindfulness pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC) e também formado como Instrutor de Mindfulness pelo Mindfulness Training International (MTI). Atualmente se encontra em estudos pela abordagem "Compassionate Inquiry" desenvolvida pelo Dr. Gabor Maté.

